Livro sobre presidiários famosos da penitenciária de Tremembé revela que o ex-médico Roger Abdelmassih, condenado a 181 anos de reclusão, fraudou exames para ganhar a prisão domiciliar. Exige-se, agora, uma resposta rápida da Justiça O nome de Roger Abdelmassih é conhecido como um dos mais grotescos da história brasileira. O ex-médico de estrondoso sucesso foi condenado a 181 anos de prisão por abusar sexualmente de dezenas de mulheres, todas pacientes em sua clínica de fertilização. Apesar dos relatos assustadores de estupros, enquanto elas permaneciam sob efeito de anestesia, ainda existem novas ocorrências em sua vasta ficha criminal. Um livro intitulado “Diário de Tremembé – o presídio dos famosos”, escrito por Acir Filló, ex-prefeito da cidade paulista de Ferraz de Vasconcelos e que está preso por corrupção na mesma prisão que Abdelmassih esteve, a de Tremembé, revela que o ex-médico forjou exames para atestar insuficiência cardíaca de nível quatro. Passando-se assim por falso doente grave, ele conquistou na Justiça a prisão domiciliar em junho de 2017 – na verdade, Abdelmassih se viu atrás das grades por menos de quatro anos, uma vez que, condenado em 2010, fugiu para o Paraguai e lá esteve até 2014. A impunidade parece gostar dele. O depoimento que embasa esse capítulo do livro foi dado por outro médico: Carlos Sussumu, que, por estar cumprindo a sentença em regime semiaberto, trabalhava em Tremembé cuidando da saúde de outros presidiários. Sussumu fora condenado por associação criminosa e extorsão, e coube a ele a tarefa aparentemente inacreditável de ensinar uma nova malandragem ao exímio malandro Abdelmassih. No livro em questão, Sussumu admite ter assinado diagnósticos e relatórios que “não condizem com a realidade” sobre a condição clínica de seu “paciente”, fato que levou Abdelmassih para casa. Diz mais: “A doença do Roger é uma fraude, foi fabricada e é artificial. Ele não tem nenhum problema de saúde que uma simples medicação não resolva”. As declarações de Sussumu foram corroboradas em uma acareação entre ele e Filló, ordenada pela juíza Sueli Zeraik. A magistrada foi alertada do golpe pelo próprio autor do livro que, prevendo a grande repercussão da publicação, pediu à Justiça o direito de conceder entrevistas. Ela também realizou audiências com outros presos de Tremembé que foram mencionados na publicação como Alexandre Nardoni, Cristian Cravinhos e Lindemberg Alves. Remédio indevido Sussumu afirma não ter prescrito medicação alguma, mas reconhece que ensinou a Abdelmassih o truque de se valer de remédios cujo efeito colateral é manter a pressão arterial instável, desde que utilizado inadequadamente – caso do hipertensor Effortil (medicamento descontinuado pelo laboratório Boehringer em dezembro de 2015, por razões comerciais). Abdelmassih tomava excessivamente água com sal (a pressão subia) e depois o Effortil (subia mais ainda). O médico especialista em fazer dolosamente da pressão arterial uma gangorra avalia que, se Abdelmassih de fato sofresse com o problema cardíaco que alega, não estaria respirando por conta própria dois anos após o diagnóstico – por causa de sua idade avançada de 75 anos – e necessitaria do auxílio de aparelhos para sobreviver. Para Sussumu, a sua hora chegou. A Justiça ordenou o seu retorno ao regime fechado de cumprimento de pena. Caso as enganações sejam comprovadas, o seu registro no Conselho Federal de Medicina certamente será cassado. Já para Abdelmassih, a estrela da impunidade segue a brilhar. Abriu-se um processo na Vara das Execuções Criminais para avaliar as irregularidades no seu requerimento de prisão domiciliar, mas, pelo fato de a última perícia médica (claro que não praticada pelo “mestre” Sussumu) apontá-lo com a saúde debilitada, o estuprador continua em casa. Ele é representado judicialmente pela esposa, Larissa Abdelmassih, que afirmou recentemente que o quadro clínico de seu marido está pior do que em 2017. E ele estaria à beira da morte. Quem viver, verá. “A doença de Abdelmassih é uma fraude, foi fabricada e é artificial. Ele não tem nenhum problema de saúde que uma simples medicação não resolva” Carlos Sussumu, médico presidiário que atuava no presídio”. “O seu apoio mantém o jornalismo vivo. O jornalismo tem um papel fundamental em nossa sociedade. O papel de informar, de esclarecer, de contar a verdade e trazer luz para o que, muitas vezes, está no escuro. Esse é o trabalho de um jornalista e a missão do Redação Nacional. Mas para isso, nós precisamos de você e do seu apoio, pois juntos nós podemos, através de matérias iguais a essa que você acabou de ler, buscar as transformações que tanto queremos.” © 2019, Redação Nacional. Todos os direitos reservados.

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