Alerj: Entenda suspeitas do MP sobre o esquema ‘rachadinhas’ de ‘Flávio Bolsonaro

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O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, é apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como chefe de uma organização criminosa que atuou em seu gabinete no período em que foi deputado da Assembleia Legislativa do estado (Alerj). Entre 2003 e 2018, ele cumpriu quatro mandatos parlamentares consecutivos. A estimativa é que cerca de R$ 2,3 milhões tenham sido movimentados em um esquema de “rachadinha”, no qual funcionários do então deputado devolviam parte do salário que recebiam na Alerj. O dinheiro, segundo a investigação, era lavado com aplicação em uma loja de chocolates no Rio da qual o senador é sócio e em imóveis. Na quarta-feira,18/06, a loja foi alvo de busca e apreensão na investigação sobre essas movimentações suspeitas por parte de ex-assessores, dentre eles o ex-policial militar Fabrício Queiroz. Flávio Bolsonaro nega todas as acusações, diz ser vítima de perseguição e critica o vazamento das informações do processo, que corre em segredo de Justiça. Segundo promotores, a organização criminosa existiu “com alto grau de permanência e estabilidade, entre 2007 e 2018, destinada à prática de desvio de dinheiro público e lavagem de dinheiro”. Flávio Bolsonaro pede ao Supremo para suspender investigações do Ministério Público
Entenda a suspeita de ‘rachadinha’ na Alerj envolvendo Flávio Bolsonaro quando era deputado estadual no Rio de Janeiro e o ex-assessor Fabrício Queiroz. Foto: Rodrigo Sanches e Juliane Souza/G1

O papel de Queiroz

O ex-PM Fabrício Queiroz, que trabalhou como assessor de Flávio Bolsonaro, é apontado pelo MP como operador do esquema. Ele empregava funcionários fantasmas e exigia parte do salário (ou mesmo a integralidade dele) de volta. Ao todo, 13 funcionários participaram da chamada “rachadinha”. A Promotoria identificou o recebimento de 383 depósitos na conta bancária de Queiroz, em valores que, somados, passam de R$ 2 milhões. Fabrício de Queiroz em imagem ao lado de Flávio Bolsonaro — Foto: Reprodução/JN

O que é ‘rachadinha’

O termo “rachadinha” é usado para definir um esquema de repasse de parte do salário recebido por funcionários, servidores ou prestadores de serviço a um político ou a assessores dele.

Como o esquema era organizado A) RACHADINHA Os investigadores identificaram três grupos de pessoas que foram contratadas no gabinete de Flávio e são suspeitas de desviar recursos: Grupo 1 – Família Queiroz e ex-assessores Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, a mulher dele e duas filhas Outros 9 ex-assessores de Flávio Bolsonaro Grupo 2 – Parentes de miliciano Danielle Mendonça da Costa Nóbrega, mulher de do ex-PM Adriano Magalhães da Nóbrega (miliciano que integra o grupo chamado Escritório do Crime): suspeita de ser funcionária fantasma da Alerj Raimunda Veras Magalhães, sogra de Adriano: suspeita de ser funcionária fantasma da Alerj Segundo o MP, ao nomear Danielle e depois Raimunda para cargos comissionados, Flávio Bolsonaro transferiu, ainda que indiretamente, recursos públicos para o acusado de integrar milícia. Os investigadores dizem as duas receberam R$ 1,029 milhão do gabinete de Flávio e repassaram ao menos R$ 203 mil a Queiroz. A Promotoria diz que elas usaram contas de restaurantes que seriam de Adriano para fazer os repasses. Formalmente, o miliciano não aparece no quadro societário das empresas. Quem aparece é a mãe dele, Raimunda. Grupo 3 – Família Siqueira Segundo o MP, dez pessoas ligadas a Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro, são suspeitas de serem funcionárias fantasmas do gabinete de Flávio. Os nomes incluem o pai de Ana Cristina, tios, primos, irmã e até uma pessoa próxima à família. O MP aponta que elas moravam em Resende (RJ) na época em que foram contratadas e que muitas não tinham nem mesmo crachá para entrar na Alerj. Entre 2007 e 2018, foram sacados R$ 4 milhões de suas contas bancárias. B) LAVAGEM DE DINHEIRO Além dos contratados pelo gabinete, o Ministério Público identificou três outros grupos suspeitos de lavar o dinheiro desviado de salários da Alerj: Grupo 1 — Sargento da PM Diego Sodré de Castro Ambrósio, sargento da PM e amigo de Flávio Bolsonaro, e a empresa de vigilância dele, Santa Clara Serviços Investigadores dizem que, em outubro de 2016, Ambrósio pagou um boleto de R$ 16.564,81, emitido no nome de Fernanda, mulher de Flávio. O boleto era uma prestação de apartamento comprado pelo casal em Laranjeiras, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro. O PM disse que era um empréstimo e que Flávio o ressarciu em espécie. Flávio afirmou que pediu ajuda para pagar a conta porque não tinha aplicativo do banco no celular na época.

Ambrósio declarou ter feito o pagamento por ser amigo do parlamentar. Ainda segundo ele, a quantia foi devolvida por Flávio – o PM, no entanto, disse não se lembrar de como foi ressarcido. Também em 2016, o Ambrósio efetuou transferências para dois assessores de Flávio da Alerj. Além disso, foram identificados depósitos feitos por na conta da loja de chocolates do atual senador entre 2015 e 2018. Ao todo, ele gastou R$ 21 mil no estabelecimento. Grupo 2 — Loja de chocolate Alexandre Ferreira Dias Santini, sócio de Flávio Bolsonaro na empresa Bolsotini Chocolates e Café Next Global Importação, Exportação e Logística, empresa de Santini Flávio Bolsonaro detém 50% de uma franquia da loja chocolate Kopenhagen. O MP suspeita que a loja foi usada para lavar dinheiro do esquema das “rachadinhas”. Segundo os investigadores, o volume de dinheiro em espécie depositado na conta da loja era desproporcional em relação ao faturamento. CONTINUA APÓS PUBLICIDADE As quantias depositadas não variavam conforme a sazonalidade das vendas de chocolate (Páscoa e Natal), mas, sim, coincidiam com as datas em que Fabrício Queiroz arrecadava parte dos salários da Alerj. A quantia lavada na loja pode chegar a R$ 1,6 milhão entre 2015 e 2018, de acordo com as investigações. Grupo 3 – Compra e venda de imóveis Glenn Howard Dillard, investidor norte-americano CMA Assessoria O MP apura a suspeita de lavagem de R$ 638,4 mil na compra e venda de dois imóveis em Copacabana, na Zona Sul do Rio. Glenn Howard foi o responsável por vender a Flávio os imóveis com preços abaixo do mercado. O senador depositou a quantia em dinheiro vivo na conta de um corretor em 2012. Em fevereiro 2014, os apartamentos foram vendidos por Flávio Bolsonaro com lucro extraordinário. Enquanto a valorização imobiliária na região não ultrapassou 11%, o senador declarou ter lucrado 292%.

Essa grande diferença entre o valor declarado na compra e o declarado na venda indica que ocorreu lavagem para dar aparência de legal ao dinheiro.

O que dizem os citados

Em vídeo publicado nas redes sociais nesta quinta-feira (19), um dia após os primeiros mandados de busca e apreensão na casa dos suspeitos de envolvimento no caso, Flávio Bolsonaro negou “rachadinhas” e a lavagem de dinheiro. Ele criticou o vazamento das informações do processo, que corre em segredo de Justiça, negou todas as acusações e se disse vítima de perseguição. O advogado Paulo Klein informou que, por questões de foro íntimo, não representa mais Fabrício Queiroz nem a família dele, mas tem plena convicção da inocência dos ex-clientes em relação aos fatos investigados pelo MP. A reportagem não conseguiu contato com o novo advogado de Queiroz. Ana Cristina, ex-mulher de Jair Bolsonaro, disse que não poderia se pronunciar porque o processo corre em segredo de Justiça. O sargento da PM Diego Sodré de Castro Ambrósio afirmou que ajudou na campanha de Flávio Bolsonaro. Em relação ao dinheiro pago por ele, contou que apenas ajudou um amigo que estava sem dinheiro na hora. Ele também disse não ter comprovante de empréstimo e afirmou que fez compras de panetone na loja de chocolate para dar a seus clientes. A PM informou que instaurou inquérito policial militar, e o caso seguiu para o MP. Fonte: Redação / G1 “O jornalismo tem o papel de informar, de esclarecer, de contar a verdade e trazer luz para o que, muitas vezes, está no escuro. Esse é o trabalho de um jornalista e a missão do Redação Nacional. Mas para isso, nós precisamos de você e do seu apoio, pois juntos nós podemos, através de matérias iguais a essa que você acabou de ler, buscar as transformações que tanto queremos.” Copyright © 2019, Redação Nacional. Todos os direitos reservados