Mauro Cid: Delação no colo dos outros é refresco
Setembro chegou para nos mostrar que, se no balanço da Justiça tudo pode mudar, o instituto da delação premiada parece imune a intempéries. Está certo que a delação do fim do mundo de ontem pode se tornar o grande erro histórico de hoje. Mesmo selada, registrada, carimbada, avaliada, rotulada… uma delação pode, no fim, se tornar imprestável.
Mas nada como uma delação após a outra para arejar o ambiente. Enquanto os efeitos do movimento de Toffoli ainda estavam para ser calculados, a fila no Judiciário andou. Alexandre de Moraes deu aval para a delação premiada de Mauro Cid, o encrencado militar que muito fez e muito viu durante o governo passado e cuja colaboração tem potencial para abalar o bolsonarismo.
Pode-se supor que, diante da enormidade de provas que a Polícia Federal já reuniu sobre a atuação criminosa de Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro tenha algo poderoso a entregar. É a conta que o mundo político faz. E é por isso que a notícia de que Cid saiu da prisão e se tornou um delator fez a direita antever dias de luta e a esquerda antecipar dias de glória.
É que delação no colo dos outros vira refresco. Para a esquerda, Toffoli sepultou de vez a Lava Jato e desnudou uma grande armação, enquanto Moraes abriu o caminho para uma delação de verdade. Para o pessoal da direita, Toffoli moveu-se tão somente para agradar petistas e Moraes segue perseguindo o clã Bolsonaro.
Então ficamos assim: os que ontem vociferavam contra a existência de delatores, hoje celebram a chegada de mais um. Os que hoje enxergam agenda política do Supremo ao confirmar uma delação, ontem festejavam o destino de delatados. Os dois lados sabem que uma delação que fulmina um rival é combustível político dos mais valiosos. A direita fartou-se no que a Odebrecht produziu. A ver se a esquerda irá à forra com o que Cid entregará.
Fonte: Agência Estado
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