Festa da Bicuda: Vereadora do PT ameaçada de cassação, emenda para festa LGBTQIA+ teve nudez inapropriada

Campinas, SP: Atacada nas redes sociais e criticada por seus pares por destinar uma emenda parlamentar à Festa da Bicuda, realizada em Campinas (SP) no dia 14 deste mês, a vereadora Paolla Miguel (PT) diz ser alvo de uma campanha de desinformação que pode abrir um precedente perigoso na Câmara Municipal local.

O evento, sediado em praça pública, causou espécie por trazer uma performance que continha nudez, simulação de sexo oral e músicas de teor sexual. Organizadores do festival afirmam que não tinham ciência do conteúdo e que a apresentação foi interrompida passados menos de dois minutos de seu início.

A vereadora Paolla Miguel (PT), de Campinas – @vaipaolla no Instagram

A vereadora petista diz que também foi pega de surpresa e que não sabia da performance quando decidiu apoiar a festa com uma emenda no valor R$ 10.690, destinados à aquisição de banheiros químicos, gradil e palco.

“Foi completamente inadequado e inapropriado para uma praça pública que precisa acolher a todos os públicos. Não tinha controle de idade”, afirma Paolla Miguel à coluna, ao comentar a performance. Segundo ela, os organizadores da Festa da Bicuda já foram notificados pela prefeitura.

Miguel afirma que o festival é realizado na cidade do interior paulista desde 2018 e que, até então, jamais havia registrado qualquer reclamação, ocorrência ou incidente do tipo —daí a sua decisão de colaborar por meio do envio da emenda, como já havia feito em outra edição da festa.

Por causa do episódio, a parlamentar se tornou alvo de uma Comissão Processante (CP) instalada na Câmara Municipal de Campinas que pode resultar na cassação de seu mandato. Miguel diz ver na iniciativa uma tentativa de responsabilizá-la por algo que foge à sua atuação enquanto parlamentar.

“Se a gente destina uma emenda para uma entidade, para um ente ou para qualquer secretaria [da cidade] e algo ali acontece, nós [vereadores] seremos responsabilizados por isso? Culpados?”, questiona.

“Acredito que vamos abrir um precedente para o questionamento de coisas que não temos o controle, com relação às emendas. Nós, vereadores, vamos começar a ser punidos e julgados pelo resultado que está na ponta. Nosso trabalho é dar a indicação e fazer a fiscalização, não a utilização do recurso”, afirma.

Cena da Festa da Bicuda, realizada em Campinas
Cena da Festa da Bicuda, realizada em Campinas – Reprodução

A vereadora destaca que seu mandato teve uma participação pontual na Festa da Bicuda, colaborando apenas com a estrutura do evento, e que não coube a ela nenhuma atribuição na curadoria dos artistas participantes.

“Quando a gente fez essa escolha, foi no intuito de atender a um evento tradicional da cidade para o público LGBTQIA+ e que discute a diversidade em uma cidade inclusiva”, afirma a vereadora, pontuando que, apesar da performance, a festa toda teve outras oito horas de programações bem-sucedidas.

Ela responsabiliza bolsonaristas pela circulação de vídeos que dão a entender que a apresentação de teor sexual teria ocorrido ao longo de todo o evento. Algumas peças sugerem que ela, Paolla Miguel, estaria no palco quando o incidente ocorreu, o que é negado pela vereadora.

“[Está sendo difícil] desmentir isso que está acontecendo e sendo propagado nas redes. Vivemos um momento de pós-verdade, em que as pessoas não buscam a verdade. Muitas vezes, elas recebem o vídeo no WhatsApp e começam a encaminhar sem nenhum critério, e as coisas vão escalando”, afirma.

A composição da Comissão Processante que julgará o destino do mandato da petista foi definida, e a parlamentar já prepara a sua defesa. Ela está sendo representada pelo advogado Roberto Piccelli e pela equipe de seu escritório, o Ricomini Piccelli Advocacia.

Miguel diz que pretende enfrentar o escrutínio com tranquilidade e serenidade, além de vê-lo como uma oportunidade para esclarecer o episódio.

“A CP é um instrumento da Casa de apuração dos fatos, que pode ser acionado por qualquer munícipe, e a gente tem muita tranquilidade por entender que os nossos pares —os membros da comissão, sobretudo os vereadores que não são membros—, vão fazer esse julgamento da melhor maneira possível para que não haja uma criminalização das emendas e da Câmara Municipal de Campinas”, afirma Paolla Miguel.

Na segunda-feira (24), um pedido de abertura de Comissão Processante contra o prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), para responsabilizá-lo por causa da Festa da Bicuda foi rejeitado pelos vereadores.

Fonte: Folha de São Paulo – Foto de Capa: Reprodução Redes Sociais

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