Briga no Ninho: Doria e Aécio disputam espaço e podem alterar o cenário eleitoral de 2022

617

Brasília: Apesar de ter escolhido o presidente Jair Bolsonaro para ser o seu principal adversário público, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), vive hoje um embate direto com outro político: o deputado Aécio Neves (PSDB-MG). Com interesses antagônicos, os dois tucanos travam uma disputa interna por controle de poder e espaço dentro da legenda. Para Doria, perder essa briga interna pode significar deixar de disputar a Presidência em 2022.

Aécio Neves passou a atuar nos bastidores em Brasília depois da derrota em 2014 na disputa pela Presidência e após ter sido flagrado em conversas com o empresário Joesley Batista, da JBS, pedindo cerca de R$ 2 milhões em 2017.

Com a popularidade em baixa, o mineiro deixou o Senado em 2018 para disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados. Na época, muitos adversários creditaram o “rebaixamento” que Aécio Neves se propôs, passando de senador para deputado, como fruto da decadência que o político passava. No entanto, cerca de quatro anos depois do escândalo da JBS, o tucano começa a ocupar espaços e a medir forças por poder dentro do PSDB.

A disputa pelo comando dos tucanos é histórica e sempre houve rodízios entre políticos mineiros e paulistas. No entanto, a ascensão de João Doria desde que foi eleito prefeito de São Paulo em 2016 incomodou velhos caciques do partido.

CONTINUA APÓS PUBLICIDADE

Com antigos nomes da sigla envolvidos em denúncias de corrupção e com o discurso da nova política em alta, Doria promoveu uma reorganização dentro do PSDB e colocou seus aliados em cargos estratégicos dentro dos diretórios.

No entanto, a postura que adotou durante a disputa pelo governo de São Paulo em 2018, quando abandonou a candidatura do seu correligionário Geraldo Alckmin para apoiar Jair Bolsonaro na disputa pelo Planalto, acabou lhe rendendo inimigos dentro do PSDB.

“Ele [Doria] chegou com a popularidade em alta e, depois de ter sido eleito prefeito, começou a ocupar ainda mais espaço dentro do PSDB. Com o ímpeto de limpar quadros antigos do partido acabou colecionando alguns adversários, entre eles o Aécio Neves, que ainda tinha forte influência interna”, explica um integrante do PSDB.

Em comparação com o trabalho do ex-ministro Eduardo Pazuello, você acredita que a gestão do cardiologista Marcelo Queiroga no Ministério da Saúde será melhor igual pior As tentativas de Doria de expulsar Aécio Neves. Já com o controle de boa parte do PSDB, Doria começou a investir nas articulações para tentar expulsar Aécio Neves do partido. No entanto, todas foram sem sucesso até o momento.

Em 2019, por exemplo, dois processos internos contra o mineiro acabaram sendo arquivados. Um dos pedidos tinha sido apresentado pelo diretório do PSDB na cidade de São Paulo. O outro, pelo diretório do partido no estado de São Paulo. Na época, Doria afirmou que o “velho PSDB escondia sujeiras” e que iria “até o fim” para expulsar Aécio.

Internamente, tucanos admitem que, apesar da impopularidade externa, nos bastidores o deputado mineiro atua em “prol dos interesses do coletivo” e que sua interlocução com as demais bancadas é “essencial nas costuras de acordos” dentro do Congresso.

E foi justamente essa atuação interna que provocou o último revés entre Aécio Neves e o governador de São Paulo. Durante a disputa pela presidência da Câmara, em fevereiro, João Doria trabalhou para que o PSDB apoiasse a candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP). No entanto, quase metade dos 33 deputados tucanos acabou apoiando a candidatura de Arthur Lira (PP-AL), por influência de Aécio Neves.

Para tentar frear o deputado, ainda em fevereiro João Doria reuniu aliados em um jantar na sede do governo de São Paulo para traçarem uma nova estratégia de expulsão de Aécio.

De lá pra cá, o governador manobrou para tentar assumir a presidência da executiva nacional do PSDB. No entanto, a maioria dos tucanos acabou rejeitando a proposta e mantendo o atual presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, no cargo. Mais uma vez Aécio Neves reagiu e, por meio de nota, classificou a tentativa de Doria de tirá-lo do partido como “lamentável” e “autoritária”.

“O destempero do governador se deve, na verdade, à sua fracassada tentativa de se apropriar do partido, como ficou explicitado no jantar promovido por ele, que tinha como objetivo afastar o atual presidente Bruno Araújo, para que ele próprio assumisse a presidência do PSDB. Se o Sr. João Doria, por estratégia eleitoral, quer vestir um novo figurino oposicionista para tentar apagar a lembrança de que se apropriou do nome de Bolsonaro para vencer as eleições em São Paulo, através do inesquecível Bolsodoria, que o faça, sem utilizar indevidamente e de forma oportunista outros membros do partido”, afirmou Aécio na nota.

Deputado volta aos holofotes e “descarta” Doria como candidato a presidente Agora, com Arthur Lira na presidência da Câmara, Aécio Neves já começa a colher os primeiros frutos das suas articulações e acordos. Conseguiu se eleger presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) da Casa.

Segundo aliados, o acordo para a presidência da comissão foi fechado entre Aécio Neves e Lira ainda durante a disputa pelo comando da Câmara. O fato irritou integrantes do PSL, que comandava o colegiado com Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O posto tem visibilidade na Casa, já que a comissão tem interlocução com o Ministério das Relações Exteriores e com embaixadas de países estrangeiros.

Outro avanço de Aécio Neves na disputa pelo poder interno do partido ocorreu com a indicação do seu aliado, o deputado Rodrigo de Castro para a liderança do PSDB na Câmara. Segundo tucanos, a mudança aumentou a influência da bancada mineira na Casa e um recuo da bancada paulista, próxima de João Doria.

Na segunda-feira (15), em entrevista ao site Congresso em Foco, Aécio alfinetou Doria. “Reconheço o mérito do governador [Doria]. Acho que a questão da vacina, sem dúvida alguma, [em] boa parte se deve ao esforço dele. Mas eu digo e repito: a obsessão pelo marketing do governador de São Paulo é tão grande que até as virtudes dele acabam não trazendo os ganhos e apoios que ele poderia ter”, disse Aécio, “O velho Tancredo [Neves, avô de Aécio] dizia que é preciso a gente ‘sargentear’ antes de ser general.”

Aécio ainda disse não ver, atualmente, Doria como uma opção viável para ser o candidato do PSDB à Presidência. O deputado mineiro disse que o partido pode inclusive abrir mão de ter um candidato a presidente para apoiar algum nome do que chamou de “centro ampliado”. Um dos presidenciáveis citado por Aécio foi Ciro Gomes (PDT).

Fonte: Gazeta do Povo, Redação

“O seu apoio mantém o jornalismo vivo. O jornalismo tem um papel fundamental em nossa sociedade. O papel de informar, de esclarecer, de contar a verdade e trazer luz para o que, muitas vezes, está no escuro.

Esse é o trabalho de um jornalista e a missão do Redação Nacional.

Precisamos de você e do seu apoio, pois juntos nós podemos, através de matérias iguais a essa que você acabou de ler, buscar as transformações que tanto queremos.