Ameaça à jornalistas, correspondente BBC deixa a China…”É arriscado nosso trabalho”

 

TAIPEI – Um correspondente da BBC na China deixou Pequim depois de sofrer intensa pressão e ser ameaçado pela cobertura da emissora pública britânica de assuntos como as origens da covid-19 e a repressão do governo às minorias muçulmanas na região de Xinjiang. Pequim nega ter feito qualquer ameaça. 

O correspondente, John Sudworth, disse na quarta-feira, 31, que a decisão foi tomada depois de uma campanha de propaganda intensificada contra ele e a BBC que surgiu nos últimos meses. Ele também citou ameaças legais, bem como a dificuldade crescente de se fazer reportagens independentes na China sem obstrução ou assédio.

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Na sexta-feira, a União Europeia pediu à China que garanta a liberdade de expressão e de imprensa. Segundo o bloco, o episódio envolvendo Sudworth é o último de vários casos de jornalistas estrangeiros sendo expulsos da China como resultado de perseguição e obstrução ao seu trabalho. O jornalista disse que expressou repetidamente suas preocupações às autoridades chinesas.

BBC -
Entrada da sede da BBC em Londres; rede em disputa com a China 
Foto: Daniel Leal-Olivas/AFP

Sudworth declarou em uma entrevista à BBC Radio 4 que se mudou para Taiwan depois de nove anos em Pequim. “Como resultado desses riscos e dificuldades crescentes, foi tomada a decisão de que, depois de tolerar isso por tanto tempo, deveríamos nos mudar”, disse Sudworth, em uma declaração em vídeo filmado em Taipei, onde cumpre uma quarentena obrigatória de 14 dias. 

Pelo menos 18 correspondentes estrangeiros foram expulsos da China no ano passado, durante tensões com os Estados Unidos que dizimaram a presença da imprensa internacional no país.

Grupos de defesa da liberdade de imprensa afirmam que o espaço para repórteres estrangeiros operarem na China está cada vez mais controlado e que jornalistas estão sendo seguidos nas ruas, assediados online e tendo vistos negados.

“A BBC enfrentou um ataque de propaganda em massa, não apenas contra a própria organização, mas contra mim pessoalmente, por meio de várias plataformas controladas pelo Partido Comunista”, disse Sudworth, que continuará trabalhando como correspondente na China de Taiwan.

A mulher de Sudworth, a jornalista irlandesa Yvonne Murray, deixou o país com ele “por causa da pressão crescente das autoridades chinesas“, informou seu empregador RTE.

Saímos com pressa porque a pressão e as ameaças do governo chinês, que já vinham acontecendo há algum tempo, se tornaram demais“, disse ela à emissora estatal irlandesa. “As autoridades tiveram problemas com as reportagens do meu marido“, acrescentou.

Nas últimas semanas, a mídia estatal chinesa e as autoridades atacaram repetidamente Sudworth por suas reportagens sobre supostas práticas de trabalho forçado visando a minoria muçulmana uigur na indústria de algodão de Xinjiang.

NEGAÇÕES CHINESAS 

A embaixada chinesa na Irlanda disse na quarta-feira que Sudworth “tem sido fortemente criticado por muitos chineses por suas reportagens injustas, não objetivas e tendenciosas sobre a China”. No Twitter, a embaixada disse que “ninguém forçou ou forçará” sua mulher Murray a deixar a China.

A BBC confirmou a transferência de Sudworth depois que o tablóide da mídia estatal Global Times informou que ele estava “escondido” em Taiwan.

“O trabalho de John expôs verdades que as autoridades chinesas não queriam que o mundo soubesse”, disse a emissora em um comunicado no Twitter.

As autoridades de Xinjiang disseram em meados de março que Sudworth era alvo de um processo civil por produzir “notícias falsas” sobre a região.

“Todo mundo sabe que a BBC transmite um grande número de notícias falsas com forte viés ideológico”, disse Hua Chunying, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, a repórteres em Pequim.

Mas ela negou que o governo estivesse por trás da ação para processá-lo e, em vez disso, advertiu Sudworth por sair às pressas e não limpar seu nome.

Fontes: NYT, AFP e Agência Reuters  

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